quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Homenagem ao Mestre

Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 1907
Há 103 anos o Brasil recebeu um de seus maiores presentes: Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho.
Mestre da arquitetura, da simplicidade e da humanidade.

Oscar Niemeyer, Janeiro/2004                         Foto: Denise Costa


Foto: Denise Costa


Foto: Denise Costa



Foto: Albe Ballen
 

sábado, 16 de outubro de 2010

...


Aquarela de Denise Costa

Dois e dois quatro
quatro e quatro oito
oito e oito dezesseis…
Repitam! Diz o professor
Dois e dois quatro
quatro e quatro oito
oito e oito dezesseis.

Mas eis que o pássaro da poesia
passa no céu
a criança vê-o
a criança ouve-o
a criança chama-o:

Salva-me
brinca comigo
pássaro!
Então o pássaro desce
e brinca com a criança
Dois e dois quatro…

Repitam! Diz o professor
e a criança brinca
e o pássaro brinca com ela…
Quatro e quatro oito
oito e oito dezesseis
e dezesseis e dezesseis quanto é que faz?

Dezesseis e dezesseis não faz nada
e sobretudo não faz trinta e dois
e de qualquer maneira
eles vão-se embora.

A criança escondeu o pássaro
na sua carteira
e todas as crianças
ouvem a música
e oito e oito por sua vez também se vão
e quatro e quatro e dois e dois
por sua vez desaparecem

e um e um não fazem nem um nem dois
um e um também se vão dali.
E o pássaro da poesia brinca
e a criança canta
e o professor grita:
deixem de fazer palhaçadas!

Mas todas as outras crianças
escutam a música
e as paredes da sala
desmoronam-se tranquilamente.
E os vidros voltam a ser areia
a tinta volta a ser água
as carteiras voltam a ser árvores
o giz volta ser falésia
e a caneta volta a ser pássaro.

Jacques Prevert

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

15 de Outubro: Dia do Professor

... mais do que professores e educadores cultos, precisamos, sobretudo, de professores e educadores que saibam e que queiram ser artistas.                Rui Canário
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      
  Ana Mae Barbosa...


sábado, 2 de outubro de 2010

4 de Outubro * Dia Mundial dos Animais

                                                                     Fotos e arte: Denise Costa

Declaração dos Direitos dos Animais

1 - Todos os animais têm o mesmo direito à vida.
2 - Todos os animais têm direito ao respeito e à proteção do homem.
3 - Nenhum animal deve ser maltratado.
4 - Todos os animais selvagens têm o direito de viver livres no seu habitat.
5 - O animal que o homem escolher para companheiro não deve ser nunca ser abandonado.
6 - Nenhum animal deve ser usado em experiências que lhe causem dor.
7 - Todo ato que põe em risco a vida de um animal é um crime contra a vida.
8 - A poluição e a destruição do meio ambiente são considerados crimes contra os animais.
9 - Os diretos dos animais devem ser defendidos por lei.
10 - O homem deve ser educado desde a infância para observar, respeitar e compreender os animais.

Preâmbulo:
 
Considerando que todo o animal possui direitos;
Considerando que o desconhecimento e o desprezo desses direitos têm levado e continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e contra a natureza;
Considerando que o reconhecimento pela espécie humana do direito à existência das outras espécies animais constitui o fundamento da coexistência das outras espécies no mundo;
Considerando que os genocídios são perpetrados pelo homem e há o perigo de continuar a perpetrar outros;
Considerando que o respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos homens pelo seu semelhante;
Considerando que a educação deve ensinar desde a infância a observar, a compreender, a respeitar e a amar os animais,
 
Proclama-se o seguinte
 
Artigo 1º 
Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência.
Artigo 2º 
1.Todo o animal tem o direito a ser respeitado.
2.O homem, como espécie animal, não pode exterminar os outros animais ou explorá-los violando esse direito; tem o dever de pôr os seus conhecimentos ao serviço dos animais
3.Todo o animal tem o direito à atenção, aos cuidados e à proteção do homem. 
Artigo 3º 
1.Nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a atos cruéis. 2.Se for necessário matar um animal, ele deve de ser morto instantaneamente, sem dor e de modo a não provocar-lhe angústia. 
Artigo 4º 
1.Todo o animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre no seu próprio ambiente natural, terrestre, aéreo ou aquático e tem o direito de se reproduzir.
2.toda a privação de liberdade, mesmo que tenha fins educativos, é contrária a este direito. 
Artigo 5º 
1.Todo o animal pertencente a uma espécie que viva tradicionalmente no meio ambiente do homem tem o direito de viver e de crescer ao ritmo e nas condições de vida e de liberdade que são próprias da sua espécie.
2.Toda a modificação deste ritmo ou destas condições que forem impostas pelo homem com fins mercantis é contrária a este direito. 
Artigo 6º 
1.Todo o animal que o homem escolheu para seu companheiro tem direito a uma duração de vida conforme a sua longevidade natural. 
2.O abandono de um animal é um ato cruel e degradante. 
Artigo 7º 
Todo o animal de trabalho tem direito a uma limitação razoável de duração e de intensidade de trabalho, a uma alimentação reparadora e ao repouso.
Artigo 8º 
1.A experimentação animal que implique sofrimento físico ou psicológico é incompatível com os direitos do animal, quer se trate de uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer que seja a forma de experimentação.
2.As técnicas de substituição devem de ser utilizadas e desenvolvidas. 
Artigo 9º 
Quando o animal é criado para alimentação, ele deve de ser alimentado, alojado, transportado e morto sem que disso resulte para ele nem ansiedade nem dor.
Artigo 10º 
1.Nenhum animal deve de ser explorado para divertimento do homem. 
2.As exibições de animais e os espetáculos que utilizem animais são incompatíveis com a dignidade do animal. 
Artigo 11º 
Todo o ato que implique a morte de um animal sem necessidade é um biocídio, isto é um crime contra a vida.
Artigo 12º 
1.Todo o ato que implique a morte de grande um número de animais selvagens é um genocídio, isto é, um crime contra a espécie.
2.A poluição e a destruição do ambiente natural conduzem ao genocídio. 
Artigo 13º 
1.O animal morto deve de ser tratado com respeito.
2.As cenas de violência de que os animais são vítimas devem de ser interditas no cinema e na televisão, salvo se elas tiverem por fim demonstrar um atentado aos direitos do animal. 
Artigo 14º 
1.Os organismos de proteção e de salvaguarda dos animais devem estar representados a nível governamental.
2.Os direitos do animal devem ser defendidos pela lei como os direitos do homem.

A Declaração Universal dos Direitos dos Animais foi aprovada pela Unesco em 15 de outubro de 1978.

A mentira só é verdade para quem diz...

Pantalone ° Commedia dell'arte
“No homem esta arte da simulação atinge seu auge: decepção, bajulação, mentira e trapaça, falar pelas costas, pose, viver com esplendor emprestado, ser mascarado, o disfarce da convenção, desempenhar um papel diante dos outros e de si mesmo – em suma, o constante alvoroço em torno de chama única da vaidade é de tal forma a regra e a lei que quase nada é mais incompreensível do que uma honesta e pura ânsia pela verdade ter surgido entre os homens. Eles estão profundamente imersos em ilusões e imagens oníricas; seus olhos só deslizam sobre a superfície das coisas e veem ‘formas’; seus sentimentos em ponto algum levam à verdade, mas se contentam com a recepção de estímulos, jogando, por assim dizer, um jogo de cabra-cega pelas costas das coisas”


NIETZSCHE. Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral, 1873






Commedia dell'arte: Forma de teatro popular improvisado, apresentado nas ruas e praças públicas, que iniciou no séc. XV, na Itália.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

23 de Setembro * Início da primavera

Lá vem a primavera espalhando suas flores...
                                                                                                          Foto: Denise Costa

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

17 de Setembro, Dia da Compreensão

                                                                                                                                     Foto: Denise Costa

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

...

                                                                               Foto: Denise Costa




Depois de procelosa tempestade,
Noturna sombra e sibilante vento,
Traz a manhã serena claridade,
Esperança de porto e salvamento.


Luís de Camões

domingo, 5 de setembro de 2010

Belo da Natureza

Papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis)
Aquarela de Denise Costa

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Para refletir...

Fotos: Denise Costa
Sou o rei deste reino, e os barcos do reino pertencem-me todos,
Mais lhes pertencerás tu a eles do que eles a ti,
Que queres dizer, perguntou o rei, inquieto,
Que tu, sem eles, és nada, e que eles, sem ti,
poderão sempre navegar

José Saramago, O Conto da Ilha Desconhecida

domingo, 29 de agosto de 2010

Dia Nacional do Combate ao Fumo

Hoje, 29 de agosto, se comemora o Dia Nacional de Combate ao Fumo.

Desenho de Oscar Niemeyer
No Brasil, estima-se que o cigarro mate 80 mil pessoas por ano, alerta o PrevFumo, projeto da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina), que oferece tratamento para largar o vício.

Para animar os futuros ex-fumantes, é bom saber que há muitos benefícios a curtíssimo prazo quando se larga o vício de fumar. A seguir, uma lista com 10 boas notícias para a sua saúde, depois que se apaga o último cigarro.

1 - Em 20 minutos a pressão arterial e os batimentos cardíacos retornam ao normal
2 - Em 8 horas os níveis de monóxido de carbono retornam ao normal
3 - Em 1 dia há redução do risco de ataque cardíaco

4 - Em 3 dias há relaxamento dos brônquios e aumento da capacidade respiratória
5 - De 2 a 12 semanas melhora a circulação
6 - Entre poucos dias e algumas semanas (dependendo do quanto e por quanto tempo a pessoa fumava) o paladar e o olfato se recuperam completamente
7 - De 1 a 9 meses há redução de tosse, infecções e ocorre melhora da capacidade respiratória
8 - Em 1 ano o risco de doença coronária cai pela metade
9 - De 10 a 15 anos o risco de doença coronariana se iguala ao de uma pessoa que nunca fumou
10 - De 15 a 20 anos o risco de câncer se aproxima do risco de uma pessoa que nunca fumou

                                                                                                                                                                                                                                                                Fonte: PrevFumo/Unifesp

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Candeia

A candeia do corpo são teus olhos;
se teus olhos forem bons,
todo teu corpo terá luz;
se, porém, teus olhos forem maus,
teu corpo será tenebroso.
Mateus 6:22,23

Amizade

Um jovem disse:
Fala-nos da Amizade.
E O Profeta respondeu, dizendo:
O teu amigo é a resposta às tuas necessidades.
Foto: Denise Costa
Ele é o campo que cultivas com amor e colhes com gratidão.
E é o teu apoio e o teu abrigo.
Pois vais até ele com fome e o buscas para ter paz.
Quando o teu amigo fala com sinceridade, não receia o "não", nem restringe o " sim".
E quando ele está calado o teu coração não deixa de ouvir o coração dele;
Pois na amizade, todos os pensamentos, todos os desejos, todas as esperanças nascem e são partilhadas sem palavras, com alegria.
Quando te separas de um amigo não fica em dor, pois aquilo que mais amas nele se tornará mais claro com a sua ausência, tal como a montanha, para quem a escala, é mais nítida vista da planície.
E não deixa que haja outro propósito na amizade que não o aprofundamento do espírito.
Pois o amor que só procura a revelação do seu próprio mistério, não é amor mas uma rede lançada que só apanha o que não é essencial.
E deixai que o que de melhor há em ti seja para o teu amigo.
Já que ele tem de conhecer o refluxo da tua maré, que conheça também o teu fluxo.
Pois para que serve o teu amigo se só o procuras para matar o tempo?
Procura-o também para viver.
Pois ele preencherá os desejos, mas não o vazio.
E na doçura da amizade que haja alegria e o compartilhar de prazeres.
Pois é no orvalho das pequenas coisas que o coração encontra a manhã e se renova.


O Profeta, Khalil Gibran

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Helen Keller

Helen Keller, cega e surda desde bebê, há setenta anos, escreveu um ensaio que a revista Seleções publicou e diz mais ou menos assim:

Às vezes o meu coração anseia por ver tudo aquilo que só conheço pelo tato. Se eu consigo tanto prazer com um simples toque, quanta beleza poderia ser revelada pela visão!
E imaginei o que mais gostaria de ver se pudesse enxergar, digamos, por apenas três dias.
O primeiro dia seria muito ocupado. Eu reuniria todos os meus amigos queridos e olharia seus rostos por muito tempo, imprimindo em minha mente as provas exteriores da beleza que existe dentro deles.
Também fixaria os olhos no rosto de um bebê, para poder ter a visão da beleza ansiosa e inocente. E gostaria de olhar nos olhos fiéis e confiantes de meus dois cães.
À tarde daria um longo passeio pela floresta, contagiando meus olhos com as belezas da natureza. E rezaria pela glória de um pôr de sol colorido.
Creio que nessa noite não conseguiria dormir.
No dia seguinte eu me levantaria ao amanhecer para assistir ao empolgante milagre da noite se transformando em dia. Contemplaria, assombrada, o magnífico panorama de luz com que o sol desperta a terra adormecida.
Como gostaria de ver o desfile do progresso do homem, visitaria os museus.
Tentaria sondar a alma do homem por meio de sua arte. Veria então o que conheci pelo tato. Todo o magnífico mundo da pintura me seria apresentado.
A noite de meu segundo dia seria passada no teatro ou no cinema.
No terceiro dia, a cidade seria meu destino. Iria aos bairros pobres, às fábricas, aos parques onde as crianças brincam. Viajaria pelo mundo visitando os bairros estrangeiros.
E meus olhos estariam sempre abertos tanto para as cenas de felicidade quanto para as de tristeza, de modo que eu pudesse descobrir como as pessoas vivem e trabalham, e compreendê-las melhor.
À meia-noite, uma escuridão permanente outra vez se cerraria sobre mim.
Claro, nesses três curtos dias eu não teria visto tudo que queria ver.
Só quando as trevas descessem de novo é que me daria conta do quanto eu deixara de apreciar.

Guernica

Uma das obras mais conhecidas de Picasso é a tela Guernica, em exposição no Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, em Madri, retrata a cidade de Guernica, na Espanha, após ser bombardeada pelos aviões da Luftwaffe de Adolf Hitler.
A violência e a indignação fizeram com que Picasso se concentrasse por cinco meses no trabalho.

 

“Gritos das crianças, gritos das mulheres, gritos dos pássaros, gritos das flores, gritos das árvores e das pedras, gritos dos tijolos, dos móveis, das camas, das cadeiras, dos cortinados, das panelas, dos gatos e do papel, gritos dos cheiros, que se propagam uns após outros, gritos do fumo, que pica nos ombros, gritos, que cozem na grande caldeira, e da chuva de pássaros que inundam o ar.”
 

GuernicaPablo Picasso, 1937
Óleo sobre tela - 349,3 cm x 776,6 cm
Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, Madri, Espanha

Em 4 de maio de 1939 a Prefeitura de Guernica, dirigindo-se ao povo espanhol, divulgou o seguinte comunicado:

"Em pé, diante desde microfone, quero contar o que os meus olhos viram no lugar do que já foi Guernica, e tomo Deus como testemunha:

Envergonhados pelo monstruoso crime que cometeram, os rebeldes apelam para a falsidade para camuflar, para negar a mais vil das proezas da História, a total e absoluta destruição da cidade de Guernica.

Aquele dia fatal, 26 de abril, era dia de mercado e a cidade estava cheia de gente. Em Guernica havia milhares de camponeses de toda a vizinhança, numa atmosfera de camaradagem basca, e ninguém suspeitava de que uma tragédia se aproximava.

Pouco depois das quatro da tarde, aviões jogaram nove bombas no centro da cidade. Procurávamos os feridos, quando mais aviões surgiram, jogando todo tipo de bombas, incendiárias e explosivas.

As feras que pilotavam tais aviões, logo que avistavam nas ruas ou fora da cidade uma figura humana, focalizavam nela suas metralhadoras, semeando terror e morte, entre mulheres, crianças e velhos. Tal foi a tragédia de Guernica, cuja verdade, eu, prefeito da cidade, afirmo diante do mundo inteiro.

A milícia estacionada em Guernica, naquele dia, era exatamente a mesma que havia confraternizado todos esses meses com o povo de Guernica, ganhando sua afeição. Foi a primeira a prestar auxílio naqueles momentos terríveis. Não foi nossa milícia que ateou fogo a Guernica e, se o juramento de um alcaide cristão e basco tem algum valor, juro diante de Deus e da História que aviões alemães bombardearam cruelmente nossa cidade até riscá-la do mapa." 

Guernica foi ferida, mas não morrerá. Da árvore brotarão novas folhas verdes em toda primavera; seus filhos a ela retornarão; suas casas serão reconstruídas, suas igrejas escutarão novamente seus hinos e preces...

Guernica, símbolo de nossas liberdades nacionais e símbolo da ferocidade do fascismo internacional, não pode morrer."

Fonte: História do Século 20, volume 4 - Abril Cultural

Durante a Segunda Guerra Mundial, Picasso continuou vivendo em Paris durante a ocupação alemã. Tendo fama de simpatizante comunista, era alvo de controles frequentes pelos alemães. Durante uma revista do seu apartamento parisiense, um oficial nazista observou uma fotografia do mural Guernica na parede e, apontando para a imagem, perguntou: “Foi você quem fez isso?” E Picasso respondeu, após um segundo de reflexão: “Não, vocês o fizeram.”

Exilada por mais de quarenta anos em Nova York, a tela só voltou à Espanha em 1981, quando foi recebida pelo Museu Nacional do Padro, em Madri onde permaneceu por muitos anos antes mesmo de seguir ao Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia.

http://www.caras.com.br/pinacotecacaras/picasso.swf
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pablo_Picasso

O Pequeno Príncipe, Capítulo XXI

E foi então que apareceu a raposa:
− Bom dia – disse a raposa.

− Bom dia – respondeu educadamente o pequeno príncipe, que, olhando a sua volta, nada viu.
− Eu estou aqui – disse a voz, debaixo da macieira…
− Quem és tu? – perguntou o principezinho. – Tu és bem bonita…
− Sou uma raposa – disse a raposa.
− Vem brincar comigo – propôs ele – Estou tão triste…
− Eu não posso brincar contigo – disse a raposa. – Não me cativaram ainda.
− Ah! Desculpe – disse o principezinho.
Mas, após refletir, acrescentou:
− Que quer dizer ‘cativar’?
− Tu não és daqui – disse a raposa – Que procuras?
− Procuro homens – disse o pequeno príncipe. – Que quer dizer ‘cativar’?
− Os homens – disse a raposa – tem fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?
− Não – disse o pequeno príncipe. – Eu procuro amigos. Que quer dizer ‘cativar’?
− É algo quase sempre esquecido – disse a raposa – Significa ‘criar laços’…
− Exatamete – disse a raposa – Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…
− Começo a compreender – disse o pequeno príncipe. –
Existe uma flor… eu creio que ela me cativou…
− É possível – disse a raposa – Vê-se tanta coisa na Terra…
− Oh! Não foi na Terra – disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
− Num outro planeta?
− Sim.
− Há caçadores nesse planeta?
− Não.
− Quem bom! E galinhas?
− Também não.
− Nada é perfeito – suspirou a raposa.
Mas a raposa retomou o raciocínio.
− Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens também. E isso me incomoda um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo…
A raposa calou-se e observou por muito tempo o príncipe:
− Por favor… cativa-me! – disse ela.
− Eu até gostaria, – disse o princiepezinho – mas não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
− A gente só conhece bem as coisas que cativou – disse a raposa – Os homens não tem mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não tem mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
− Que é preciso fazer? – perguntou o pequeno príncipe.
− É preciso ser paciente – respondeu a raposa – Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás um pouco mais perto…
No dia seguinte o príncipe voltou.
− Teria sido melhor se voltasses à mesma hora – disse a raposa – Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz! Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração… É preciso que haja um ritual.
− Que é um ‘ritual’? – perguntou o principezinho.
− É uma coisa muito esquecida também – disse a raposa. – É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meu caçadores, por exemplo, adotam um ritual. Os meus caçadores, por exemplo, adotam um ritual. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira é então o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem em qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu nunca teria férias!
Assim o pequeno príncipe cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
− Ah! Eu vou chorar.
− A culpa é tua – disse o principezinho – Eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse…
− Quis – disse a raposa.
− Mas tu vais chorar! – disse ele.
− Vou – disse a raposa.
− Então, não terás ganho nada!
− Terei, sim – disse a raposa – por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
− Vai rever as rosas. Assim, compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te presentearei com um segredo.
O pequeno príncipe foi rever as rosas:
− Vois não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes ninguém. Sois como era minha raposa. Era igual a cem mil outras. Mas eu a tornei minha amiga. Agora ela é única no mundo.
E as rosas ficaram desapontadas.
− Sois belas, mas vazias – continuou ele – Não se pode morrer por vós. Um passante qualquer sem dúvida pensaria que a minha rosa se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que todas vós, pois foi ela quem eu reguei. Foi ela quem pus sob a redoma. Foi ela quem abriguei com o pára-vento. Foi nela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi ela quem eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. Já que ela é minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
− Adeus… – disse ele.
− Adeus – disse a raposa – Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
− O essecial é invisível aos olhos – repetiu o principezinho, para não se esquecer.
− Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.
− Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa… – repetiu ele, para não se esquecer.
− Os homens esqueceram essa verdade – disse ainda a raposa – Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa…
− Eu sou responsável pela minha rosa… – repetiu o principezinho, para não se esquecer.



                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          
                                                                                                                                                                                                                                   
Antoine de Saint-Exupéry